A terceira margem do Rio: relações raciais sob as lentes de Eduardo Coutinho
Citation
Hirano, Ana Paula Kojima. 2019. A terceira margem do Rio: relações raciais sob as lentes de Eduardo Coutinho. Doctoral dissertation, Harvard University, Graduate School of Arts & Sciences.Abstract
Esta tese discute o modo como as relações raciais e suas intersecções com as questões de gênero e classe são mostradas sob as lentes de Eduardo Coutinho nos documentários Santa Marta – Duas Semanas no Morro (1987), O Fio da Memória (1991), Boca de Lixo (1992), Santo Forte (1999) e Babilônia (2000). Ao adotar o critério da alteridade na escolha dos sujeitos entrevistados, Coutinho capta imagens e narrativas de um outro social e racial. É no encontro entre Coutinho e suas personagens que adentramos o que eu chamo de “a terceira margem do Rio,” um espaço simbólico onde se pode escutar as falas que não brotariam, não fossem a confluência destes dois Rios.Coutinho nos permite olhar com a lente micro, proporcionando ver a especificidade das falas. Ao registrar a “terceira margem do Rio”, Coutinho nos convida a pensar o que poderíamos ver para além dos movimentos operário, agrário, negro; para além do “favelado” e do “povo” como arquétipos sociais.
O Fio da Memória é um importante documento para investigar as relações raciais e a história dos negros no Brasil, mostrando que celebrar pode trazer consigo o esquecimento. Boca de Lixo subverte ideias preconcebidas que podem existir em relação às pessoas que vivem da coleta de lixo. Para além do ponto de vista macro dos montes de lixo, no micro vemos a diversidade, a estrutura organizada e a agência dos entrevistados. Em Santo Forte, o conceito da dupla consciência é empregado para observar, através das falas das personagens, a tendência em “esconder” a crença pelas religiões afro-brasileiras. Em Santa Marta e Babilônia, despontam histórias de exclusão social, violência, racismo e preconceito, bem como de sonhos e realizações, ouvidas morro abaixo, morro a fora, morro a dentro – no morro. Coutinho, assim como Guimarães Rosa, coleta narrativas orais que trazem reflexões para pensarmos o nosso lugar no mundo. Das falas das pessoas que participam dos filmes de Coutinho, surgem histórias, estórias e anedotas que emergem pelo meio deste rio caudaloso e deste Rio (de Janeiro). Na terceira margem do filme de Coutinho navegamos Rio abaixo, Rio a fora, Rio a dentro – o Rio.
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